Um movimento cristão chamado “Legendários” chamou a atenção do Brasil em 2025, depois de atrair inúmeras celebridades para seu retiro evangélico.
Esse desenvolvimento destaca a crescente influência do cristianismo evangélico na política e na cultura brasileira, criando novas tensões entre os conservadores religiosos e a esquerda política.
Os dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística revelam um aumento dramático dos cristãos evangélicos. Seus números cresceram de apenas 6,6% da população em 1980 para 22,2% até 2010, com pentecostais representando a maioria.
Essa mudança demográfica se transformou em um poder político substancial nos órgãos legislativos do Brasil. O nacionalismo cristão ganhou impulso no Brasil após as eleições de Donald Trump em 2016.
O movimento promove a idéia de que os valores cristãos conservadores devem orientar a governança e a vida social. Os adeptos veem conflitos políticos como parte de uma “guerra cultural” que ameaçava os valores cristãos na sociedade.
A esquerda respondeu formando seus próprios movimentos políticos cristãos. Em 2020, os jovens evangélicos lançaram o primeiro “banco evangélico de esquerda” do Brasil para as eleições municipais.
Esse grupo, o “Bancada Evangélica Popular”, incluiu candidatos de vários partidos de esquerda que apóiam causas progressistas, mantendo sua identidade cristã.
Esses cristãos de esquerda desafiam a noção de que a fé evangélica deve se alinhar com a política conservadora. Eles defendem a justiça social e as políticas progressistas enquanto criticam representantes políticos evangélicos tradicionais por usar o medo religioso para controlar os eleitores.
Fé e política colidem
O Partido dos Trabalhadores do Brasil (PT) reconheceu essa mudança e adaptou sua estratégia. Os candidatos a PT agora incorporam a linguagem religiosa em campanhas.
Durante 2024 eleições municipais, os candidatos terminaram com a oração do Senhor e criaram movimentos como “cristãos com Lúdo” para atrair eleitores religiosos.
Essa estratégia mostrou resultados. Em Cuiabá, uma região tradicionalmente conservadora, 12% dos ex-apoiadores de Bolsonaro votaram no candidato a prefeito do PT, ajudando a esquerda a alcançar a segunda rodada em uma cidade historicamente à direita.
O debate teológico continua a dividir os cristãos brasileiros. Passedores proeminentes como Edir Macedo e André Valadão afirmam que os cristãos não podem apoiar a política de esquerda. Eles definem a fé cristã através de um código moral que opondo direitos LGBTQIA+, feminismo e preocupações sobre a desigualdade social.
O teólogo Rodolfo Capler contraria essa visão, apontando para os profetas bíblicos que denunciaram injustiças sociais. Ele observa que o próprio Jesus desafiou opressões sociais.
Ele associou a grupos marginalizados e criticou o acúmulo de riqueza. A luta entre essas visões concorrentes do cristianismo na política continua a remodelar o cenário político do Brasil.
Ambos os lados reivindicam valores cristãos autênticos ao perseguir agendas políticas dramaticamente diferentes, refletindo tensões mais profundas na sociedade brasileira sobre a relação adequada entre fé e governança.